quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

:: Reportagem: Valor Econômico/Carreira/01/12/11 ::

Sou velho demais para interessar ao mercado?

Por Gilberto Guimarães - responde
Tenho 35 anos de carreira como executivo. Durante esse período, trabalhei em empresas nacionais e multinacionais de diferentes segmentos. Estou insatisfeito na minha atual companhia e comecei a sondar o mercado. No entanto, estou perto de completar 60 anos de idade e percebi que não sou mais recebido com o interesse de antes. Pensei em fazer mais um MBA ou até mesmo me tornar consultor, mas não sei se é esse o caminho. Como posso convencer o mercado de que ainda sou um profissional produtivo e dinâmico?
Diretor, 59 anos:
Resposta:
A maioria dos "cinquentões" não tem vontade de "tirar o pé do acelerador" - e ela está certa. Quando Bismarck, em 1.870 na Alemanha, criou o conceito de um plano de aposentadoria no qual o Estado proveria seus cidadãos, a expectativa de vida girava em torno de 50 anos. Hoje, ela chega aos 80 anos.
Um "cinquentão", depois de 30 anos trabalhando, tem ainda mais de um terço de percurso pela frente. Uma nova segunda carreira, portanto, tornou-se comum e até obrigatória.
Os tempos mudaram. Há muita carência de bons profissionais. Nos últimos anos, a quantidade de seniores contratados tem sido cada vez maior. Na verdade, os "cinquentões" ainda têm tempo para mais um ou dois cargos importantes na carreira.
Não foi uma trajetória fácil para os representantes dessa sacrificada geração. Eles viveram todas as crises, choques do petróleo, hiperinflação, mudança do padrão dólar x ouro, globalização. Para piorar, tiveram dificuldades para alcançar o topo, pois a geração que os precedeu envelheceu se agarrando ao poder.
Mas nada está perdido. Os executivos experientes podem mais facilmente se colocar em projetos difíceis, conflitantes e arriscados, sobretudo aqueles que ninguém quer - muito menos os mais jovens, por medo que um passo em falso possa prejudicar a carreira. Esses profissionais têm muita "estrada" e se sentem confortáveis nesse tipo de trabalho. Podem, por exemplo, negociar acordos com sindicatos, fechar fábricas ou filiais e demitir grandes grupos.
Existem, contudo, outras missões menos expostas para essa faixa etária como cargos mais funcionais para a área de recursos humanos ou planejamento estratégico. Eles conhecem bem a casa, as pessoas e as filiais. Para conseguir esses espaços, têm de aceitar certos sacrifícios que vão desde status até responsabilidades e uma progressão financeira mais lenta. Sem problemas para eles. Nessa fase da vida, um executivo experiente, em tese, estará mais livre de problemas financeiros e familiares, pois os filhos já devem ter partido de casa e constituído suas novas famílias.
Cada vez mais, as grandes empresas contratam os "cinquentões" para desafios interinos, trabalhos de duração determinada e com desafios precisos - frequentemente, recuperação de empresas ou negócios, com mudanças geográficas e até mesmo internacionais.
As pequenas e médias empresas também são uma grande oportunidade. Elas buscam os mais seniores porque o perfil financeiro e técnico permite que sejam adequados e aportem muita competência para essas estruturas. A grande maioria dos "cinquentões" pode aceitar trabalhar por remuneração variável e até mesmo por um "success fee", o que permite uma perfeita combinação entre necessidades e possibilidades. Não é mais verdade absoluta que só resta a eles se aposentar ou se tornar consultores, professores ou 'coaches'.
O mundo vive tempos de grandes mudanças. As empresas são obrigadas a se reinventar a cada dois ou três anos. Qualquer que seja seu momento profissional, não se pode parar ou dormir sobre os louros de uma vitória. O mercado cada vez exige mais competência e experiência. Os melhores sempre terão espaço, não importa a idade.
Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e da BPI no Brasil
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. As perguntas devem ser enviadas para:
E-mail diva.executivo@valor.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário