segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

:: Reportagem: Valor Econômico/Carreira/12/12/11 ::

Universidades europeias querem atrair brasileiros

Por Vívian Soares | De São Paulo
Daniel Wainstein/ Valor  Christian Müller, do escritório regional do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico, diz que mais de 50 universidades de seu país participarão do "Ciência sem Fronteiras"
Não são apenas as escolas de negócios internacionais que estão disputando estudantes brasileiros. Nos últimos meses, o país está atraindo também a atenção de universidades e instituições governamentais europeias interessadas em garimpar potenciais candidatos na região. Sofrendo com a escassez de alunos, especialmente na área de ciências exatas, as universidades do Velho Continente se animaram com o investimento do governo brasileiro no programa "Ciência sem Fronteiras", que prevê a concessão de bolsas de estudo para alunos do país interessados em seguir carreira em programas como tecnologia e engenharia.
A gradual queda no número de alunos nas faculdades europeias, agravada pelo envelhecimento da população, é outro ponto que está fazendo muitas instituições reforçarem seus planos de internacionalização - e o Brasil está entre os mercados mais visados. Na avaliação de Éric Froment, presidente fundador da Associação das Universidades Europeias (AUE) e ex-reitor da Universidade de Lyon, o interesse pelo país é uma espécie de 'moda' entre as instituições. "O Brasil está em evidência, mas sofre com a falta de talentos e tem uma enorme população que ainda não foi à universidade."
"Uma de nossas metas é fazer com que o público brasileiro tenha interesse em estudar na Europa. Queremos que nossas instituições se tornem cada vez mais conhecidas entre os estudantes", afirma Christian Müller, diretor do escritório regional do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD, na sigla em alemão). Ele foi um dos organizadores do primeiro Salão Europeu de Pós-Graduação, que no último mês reuniu 70 instituições de 12 países em São Paulo - muitas pela primeira vez no Brasil. Segundo ele, mais de 50 universidades da Alemanha devem participar do "Ciência sem Fronteiras".
O programa gerou interesse também em outras escolas do continente, muitas delas tradicionais formadoras de engenheiros e técnicos. É o caso da Alemanha, mas também de países como a Suécia, a Finlândia e a Polônia, que enviaram delegações ao evento. "O número de brasileiros ainda é pequeno nas nossas universidades e temos a intenção de aumentá-lo. Temos muito a oferecer aos alunos do país em ensino nas áreas de engenharia e inovação", afirma Pierre Liljefeldt, oficial de diplomacia da Embaixada da Suécia.
Na Polônia, a falta de engenheiros nas universidades fez o governo investir na atração de mulheres para carreiras em áreas mais técnicas. Bianka Siwinska, líder do projeto Girls in Engineering & Science, afirma que nos últimos quatro anos a iniciativa conseguiu colocar dez mil mulheres a mais no ensino superior. Os esforços para conquistar alunos, porém, não se concentram apenas no estímulo à diversidade de gênero, mas também na de nacionalidades. "Nossas universidades estão trabalhando na divulgação dos programas e na atração de candidatos em todo o mundo", afirma.
Há cinco anos, as atenções das instituições educacionais europeias ainda estavam direcionadas principalmente para os países asiáticos. Segundo Éric Froment, da AUE, aos poucos elas foram se voltando para mercados igualmente promissores como a América Latina. A Holanda, por exemplo, aposta em uma cooperação universitária para aumentar o intercâmbio acadêmico com o Brasil. Uma prova disso é a abertura, em 2008, de uma representação local do Nuffic Neso, agência de promoção ao intercâmbio educacional daquele país. Remon Daniel Boef, diretor da instituição, afirma que o movimento foi motivado pelo destaque brasileiro na economia global, somado a um forte processo de internacionalização das universidades holandesas. "Além disso, temos uma política de estímulo à diversidade cultural que privilegia a atração de talentos globais", diz.
Na The Hague University of Applied Sciences, sediada em Haia, capital do governo holandês, são apenas 40 brasileiros em um universo de 23 mil estudantes, mas o objetivo é aumentar esse número. A universidade tem vindo ao país periodicamente desde 2008 para reforçar parcerias e atrair estudantes. "Tivemos um pequeno aumento de alunos do país, mas sabemos que esse é um trabalho de longo prazo", afirma Joey Uijleman Anthonijs, oficial senior de recrutamento e relações internacionais da The Hague University.
O principal desafio para essas instituições no Brasil, no entanto, está relacionado à reciprocidade. "Elas devem se preocupar menos em atrair estudantes e mais em promover troca de conhecimento e cooperação. Isso deve incluir uma política consistente para também enviar estudantes europeus ao Brasil", afirma o presidente da Associação das Universidades Europeias. "Atrair alunos a qualquer custo soa muito comercial e nada sustentável para as instituições. O comprometimento deve ser permanente", ressalta.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

:: Reportagem: Valor Econômico/Carreira/01/12/11 ::

Sou velho demais para interessar ao mercado?

Por Gilberto Guimarães - responde
Tenho 35 anos de carreira como executivo. Durante esse período, trabalhei em empresas nacionais e multinacionais de diferentes segmentos. Estou insatisfeito na minha atual companhia e comecei a sondar o mercado. No entanto, estou perto de completar 60 anos de idade e percebi que não sou mais recebido com o interesse de antes. Pensei em fazer mais um MBA ou até mesmo me tornar consultor, mas não sei se é esse o caminho. Como posso convencer o mercado de que ainda sou um profissional produtivo e dinâmico?
Diretor, 59 anos:
Resposta:
A maioria dos "cinquentões" não tem vontade de "tirar o pé do acelerador" - e ela está certa. Quando Bismarck, em 1.870 na Alemanha, criou o conceito de um plano de aposentadoria no qual o Estado proveria seus cidadãos, a expectativa de vida girava em torno de 50 anos. Hoje, ela chega aos 80 anos.
Um "cinquentão", depois de 30 anos trabalhando, tem ainda mais de um terço de percurso pela frente. Uma nova segunda carreira, portanto, tornou-se comum e até obrigatória.
Os tempos mudaram. Há muita carência de bons profissionais. Nos últimos anos, a quantidade de seniores contratados tem sido cada vez maior. Na verdade, os "cinquentões" ainda têm tempo para mais um ou dois cargos importantes na carreira.
Não foi uma trajetória fácil para os representantes dessa sacrificada geração. Eles viveram todas as crises, choques do petróleo, hiperinflação, mudança do padrão dólar x ouro, globalização. Para piorar, tiveram dificuldades para alcançar o topo, pois a geração que os precedeu envelheceu se agarrando ao poder.
Mas nada está perdido. Os executivos experientes podem mais facilmente se colocar em projetos difíceis, conflitantes e arriscados, sobretudo aqueles que ninguém quer - muito menos os mais jovens, por medo que um passo em falso possa prejudicar a carreira. Esses profissionais têm muita "estrada" e se sentem confortáveis nesse tipo de trabalho. Podem, por exemplo, negociar acordos com sindicatos, fechar fábricas ou filiais e demitir grandes grupos.
Existem, contudo, outras missões menos expostas para essa faixa etária como cargos mais funcionais para a área de recursos humanos ou planejamento estratégico. Eles conhecem bem a casa, as pessoas e as filiais. Para conseguir esses espaços, têm de aceitar certos sacrifícios que vão desde status até responsabilidades e uma progressão financeira mais lenta. Sem problemas para eles. Nessa fase da vida, um executivo experiente, em tese, estará mais livre de problemas financeiros e familiares, pois os filhos já devem ter partido de casa e constituído suas novas famílias.
Cada vez mais, as grandes empresas contratam os "cinquentões" para desafios interinos, trabalhos de duração determinada e com desafios precisos - frequentemente, recuperação de empresas ou negócios, com mudanças geográficas e até mesmo internacionais.
As pequenas e médias empresas também são uma grande oportunidade. Elas buscam os mais seniores porque o perfil financeiro e técnico permite que sejam adequados e aportem muita competência para essas estruturas. A grande maioria dos "cinquentões" pode aceitar trabalhar por remuneração variável e até mesmo por um "success fee", o que permite uma perfeita combinação entre necessidades e possibilidades. Não é mais verdade absoluta que só resta a eles se aposentar ou se tornar consultores, professores ou 'coaches'.
O mundo vive tempos de grandes mudanças. As empresas são obrigadas a se reinventar a cada dois ou três anos. Qualquer que seja seu momento profissional, não se pode parar ou dormir sobre os louros de uma vitória. O mercado cada vez exige mais competência e experiência. Os melhores sempre terão espaço, não importa a idade.
Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e da BPI no Brasil
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. As perguntas devem ser enviadas para:
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